quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Aniversário da morte de Fernando Pessoa.


Hoje, é o aniversário de morte do poeta português Fernando Pessoa, que morreu em 1935 , aos 47 anos. Foi um dos maiores escritores da literatura universal e um dos mais aclamados e respeitados poetas da língua portuguesa e da língua inglesa. Por este motivo resolvi escrever um pequeno artigo em sua homenagem.

Ele nasceu em 13 de junho de 1888, em Lisboa. Logo cedo sua vida foi impactada por acontecimentos fortes, a morte do pai em 1893 e a morte do irmão em 1894, fatos que devem ter deixado marcas em sua personalidade, que na época estava em formação, pois ainda era criança. No ano seguinte, sua mãe casa-se com João Miguel Rosa, cônsul português em Durban, na África do Sul. Em 1896, a família partiu para Durban onde Fernando Pessoa estuda e aprende o inglês.

Depois de ter regressado a Lisboa em 1905, começa a ter contato com a poesia francesa, como a do poeta Baudelaire e lê os poetas portugueses Cesário Verde e Camilo Pessanha. Inicia correspondência com Mário de Sá-Carneiro que, de Paris, manda a Pessoa notícias do Cubismo e do Futurismo. Tendo abandonado em 1907 o curso superior, monta na época um tipografia que não durou muito tempo. Trabalhou como correspondente estrangeiro em casas comerciais, o que fez até o último ano de sua vida.

Em 1912 ele colaborou com a revista A Águia. Publicou seus primeiros poemas em inglês. Teve contato com as obras do Padre Antônio Vieira e foi influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês. Mensagem" foi um dos poucos livros de poesias publicado em vida.

O ortônimo e os heterônimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa usou em suas obras diversas autorias. Usou seu próprio nome (ortônimo) para assinar várias obras e pseudônimos (heterônimos) para assinar outras. Os heterônimos de Fernando Pessoa tinham personalidade própria e características literárias diferenciadas. São eles:

 Álvaro de Campos

Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo, apresentava certo niilismo em suas obras. 


 Ricardo Reis

Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela cultura latina.


 Alberto Caeiro

Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas Completos de Alberto Caeiro.


Fernando Pessoa liderou um grupo de intelectuais entre eles Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros. Fundou a revista Orfeu, onde publicou poemas que causaram escândalo na sociedade conservadora da época. Os poemas "Ode Triunfal" e "Opiário", escritos por "Álvaro de Campos", foram causa de atos violentos contra a revista. Fernando Pessoa foi chamado de louco.

Em 1920,passa a morar com sua mãe, que regressara, viúva, da África do Sul. Ela falece em 1925.

Em 1935, no dia 30 de novembro, no Hospital São Luís, em Lisboa, morre Fernando Pessoa.

Algumas frases de Fernando Pessoa:

“Não faço visitas, nem ando em sociedade nenhuma – nem de salas, nem de cafés”, pois: “entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo se não aos meus raciocínios e aos meus projetos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre serão mais belos que a conversa alheia”;

 

“Nunca tive uma ideia nobre de minha presença física. Pareço um jesuíta  *fruste . Sou um surdo mudo berrando, em voz alta, os meus gestos”.  

 *gasto


Alguns poemas de Fernando Pessoa:

A Criança

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer


Heterônimo 
Alberto Caeiro


Anjos ou Deuses

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos

Heterônimo Ricardo Reis


Tabacaria 

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. (...).

Heterônimo Álvaro de Campos.

_________________________________________

Márcio José Matos Rodrigues


Imagem: Google


sábado, 19 de novembro de 2016

O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito


             
      No terceiro domingo de novembro é comemorado o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, criado em 1993 pela Road Peace, uma organização do Reino Unido.A partir desse ano, a Road Peace, a Federação Europeia e outras organizações, passaram a realizar essa mobilização em todo o mundo. Em outubro de 2005 a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Resolução 60/5 com o objetivo de melhorar a segurança rodoviária no mundo. Nesta Resolução há um convite à comunidade internacional para que seja designado o terceiro domingo de novembro como o Dia Mundial de Lembrança às Vítimas da Estrada.

Esta data é de fundamental importância para se lembrar as pessoas que morreram em acidentes de trânsito, para confortar quem já sofreu nessas situações e quem talvez sofra para sempre com a perda de pessoas queridas, assim como para se alertar sobre a questão, sensibilizando sobre as consequências dos acidentes, que resultam em mortos, feridos e sequelados, causando não só sofrimentos como também prejuízos econômicos. E é importante que se lembre a mobilização mundial pela Década de Ações pela Segurança no Trânsito, instituída pela ONU, que tem a meta de diminuir o número de acidentes e mortes no trânsito em 50%, até 2020, em todos os países signatários.

No ano de 2012, os acidentes de trânsito foram apontados como a maior causa de morte no mundo de jovens entre 15 e 29 anos, sendo que em quase a metade dos 1,2 milhões de óbitos por ano registrados por causa de acidentes houve o envolvimento de usuários considerados vulneráveis, como motociclistas, pedestres  e ciclistas.

Segundo a especialista em trânsito da empresa “Perkons S.A -Mobilidade e Segurança no Trânsito, Idaura Lobo Dias: “Para conduzir um veículo é necessário estar em total estado de alerta e em perfeitas condições (físicas e psíquicas) para não se expor ou expor os outros a riscos” e também diz: “A intenção de uma data como o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito é, justamente, alertar as pessoas sobre a violência viária. A sociedade deve refletir sobre as consequências dos acidentes e conhecer as principais causas que levam a mortes e feridos todos os dias em nossas vias”.


 É fundamental destacar que o fator humano está presente em quase todos os acidentes de trânsito. Entre os principais fatores humanos de risco podem ser mencionados:

 Sub-avaliação da probabilidade de acidente
 Desatenção
 Dificuldades visuais ou auditivas
 Cansaço
 Consumo de álcool
 Consumo de droga
 Excesso de velocidade
 Desrespeito à distancia mínima entre veículos
 Ultrapassagem indevida
 Outras infrações de motoristas
 Não-uso de cinto, de capacete, de proteção para criança
 Imprudência de pedestres, de ciclistas, de motociclistas

         Além da questão humana, os fatores que envolvem as rodovias são importantes, quanto ao seu projeto e manutenção. Pois rodovias mal projetadas e/ou com má manutenção são mais suscetíveis a acidentes.

         Nacionalmente, os dados de 2014 e 2015 sobre acidentes, conforme as fontes, são os seguintes: 

- Ministério da Saúde: 43.075 óbitos e 201.000 feridos hospitalizados em 2014

- Seguro DPVAT: em 2015, 42.500 indenizações por morte e 515.750 por invalidez.

Em relação ao número de mortos e feridos em acidentes envolvendo motocicletas, o número mais que triplicou no país entre 2002 e 2013. Os dados são do estudo "Retrato da Segurança Viária no Brasil".

O estudo citado aponta que os motociclistas representaram 37% das mortes e 56% dos feridos nos acidentes em 2013, sendo que, considerando esse ano, as motos constituíam 26% da frota nacional de veículos automotores.

Os dados mostram uma situação ainda grave. No Brasil, conforme visto acima, o número de vítimas no trânsito tem sido alto. Mudanças são necessárias para que estes números caiam cada vez mais.  E esta mudança exige um esforço de toda a sociedade, a conscientização de que todos precisam agir pensando na coletividade e em busca de um trânsito mais seguro e mais humano. A comemoração deste ano será no dia 20, correspondendo ao terceiro domingo de novembro. Diversos órgãos de trânsito do país desenvolverão atividades específicas em referência à data.

 Para finalizar, relato um caso de acidente grave com mortes no Pará ocorrido neste ano de 2016:

* “Acidente de trânsito deixa três mortos na rodovia PA-287, no sul do Pará.

* Carro e carreta se chocaram na rodovia estadual na última terça-feira, 21.

* Um quarto passageiro foi encaminhado para um hospital de Redenção.


Um acidente grave deixou pelo menos três vítimas em um trecho da rodovia PA-287, entre os municípios de Conceição do Araguaia e Redenção, no sul do Pará, na última terça-feira (21).

De acordo com a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), o carro que as vítimas ocupavam teria colidido com uma carreta, ao tentar fazer uma ultrapassagem indevida na rodovia. O veículo menor seguia de Redenção para Conceição do Araguaia. Um quarto passageiro do veículo sobreviveu ao acidente e foi encaminhado para o Hospital Municipal de Redenção.

O motorista da carreta se apresentou na Delegacia de Conceição do Araguaia nesta quarta-feira (22) e presta depoimento.” (Fonte: G1-Pará-22/06/2016).


Márcio José Matos Rodrigues - psicólogo.


Imagem: Google


terça-feira, 15 de novembro de 2016

A Proclamação da República no Brasil

                                   




Em comemoração à Proclamação da República no Brasil, que aconteceu em 15 de novembro de 1889, portanto, há 127 anos, resolvi escrever este artigo. Vou começar fazendo um retrospecto histórico desde a ideia de Platão sobre República até chegar na República no Brasil.

Platão, filósofo grego, escreveu  “A República”. A questão principal exposta diz respeito à busca de uma fórmula que garanta uma  harmoniosa administração a uma cidade. As crianças dessa República ideal estão sob especial cuidado do Estado. Até a idade dos vinte anos, recebem  a mesma educação.

Há todo um processo neste tipo de República em que as crianças passam por um sistema educacional e seletivo, sendo que os menos aptos ficariam nas classes inferiores e os mais aptos, que se destacassem mais, seriam elevados a patamares superiores.

 Aos 30 anos os que fracassarem nos exames são reunidos para formar a classe média: a dos soldados. E os demais terão autorização para continuar seus estudos superiores, cuja principal disciplina é a Filosofia. São exercitados para governar, porque deverão ser os dirigentes do Estado. Esse ensino superior irá durar uns cinco anos ainda. E então, aos trinta e cinco anos, servem como “aprendizes da vida”.

 Como filósofos amadurecidos, na teoria e na prática, devem então comandar o Estado, pois para Platão o Estado ideal deve ser governado por filósofos e a finalidade deste Estado é estabelecer a Justiça Universal.

Em Roma Antiga, a República foi instalada em 509 a. C, com a deposição do último rei do povo etrusco (Tarquínio, o Soberbo), que dominava Roma. A partir daí, a mais poderosa instituição política passa a ser o Senado, constituído por membros patrícios, que eram da classe dos grandes proprietários de terras. Também havia os magistrados (pretores, questores, cônsules, edis etc) e, em ocasiões especiais, havia o governo de ditadores, como foram Sila (a favor dos aristocratas) e Júlio César (que apesar de ser patrício reduziu certas regalias dos grandes proprietários e estabeleceu alguns benefícios aos mais pobres).

Existia a Assembleia Centurial, composta por patrícios e plebeus, que votava as leis que vigoravam em Roma, elegiam cônsules e pretores, como também resolvia as apelações de cidadãos, sendo que havia mais centúrias patrícias. Outras instituições importantes eram a Assembleia Curiata, que cuidava de assuntos religiosos e a Assembleia da Plebe, que escolhia os tribunos da plebe e votava leis.

O período republicano em Roma foi caracterizado por lutas entre patrícios e plebeus. A revolta desses resultou  em leis que os beneficiaram  (Licínia, Canuleia, Hortênsia etc).   

Com a expansão territorial, a partir das conquistas militares houve aumento da concentração de terras em mãos dos patrícios, êxodo rural, proletariado urbano empobrecido e aumento da escravidão. Durante a República houve o surgimento da classe dos equestres (comerciantes), a tentativa frustrada de Reforma Agrária (irmãos Graco), revoltas de escravos, derrota do império cartaginês, aumento das atividades comerciais. Além disso, a sociedade romana também sofreu forte influência da cultura grega e helenística, aumento da corrupção e das separações entre casais, lutas entre o partido Popular e o partido Aristocrático.

O fim da República se deu após a luta entre e Marco Antônio e Otávio, integrantes do Segundo Triunvirato, que originalmente também contou com Lépido, sendo vencedor Otávio (herdeiro político de Júlio César)  e que passou a ser designado Augusto, o primeiro imperador.

Outras duas experiências republicanas importantes de outros países que eu destaco são: a Independência dos Estados Unidos, sendo formada uma República Federalista e Presidencialista e a República da Convenção da Revolução Francesa.

Em relação à república formada nos Estados Unidos, sua  Constituição  teve fortes influências iluministas, como por exemplo, a teoria dos direitos naturais de John Locke. Esta Constituição garantia a propriedade privada, optou pelo sistema de república federativa, defendia os direitos e garantias individuais do cidadão, embora mantivesse a escravidão. De início existiram duas facções: os federalistas e os republicanos. A Constituição, datada de 1787, buscou um equilíbrio entre essas duas forças, abrindo caminho para que os estados norte-americanos tivessem autonomia para elaborar uma série de leis, que tratariam de assuntos de natureza mais específica.

Entre as mais famosas reformas na Constituição dos Estados Unidos, podem ser citadas as leis que determinaram o fim da escravidão (1865); a criação do voto feminino (1920); a proibição das confissões sob tortura (1937) e a que concedeu o direito do cidadão ficar em silêncio e exigir um advogado quando acusado por algum crime (1966).

Na França, durante a fase da Convenção, o rei absolutista foi guilhotinado. No governo republicano dos jacobinos, que representavam a pequena burguesia e os sans-cullotes (população pobre urbana), houve o enfrentamento às tropas estrangeiras que estavam invadindo a França; a criação do   Comitê de Salvação Nacional, que buscava resolver os problemas internos; o Tribunal Revolucionário, que  perseguia e condenava à morte qualquer um que viesse a ser visto como desleal à revolução.

Foram implantadas medidas a favor dos mais pobres como: sufrágio universal, que anulou os direitos feudais remanescentes;  permitiu a formação de pequenas propriedades; e tabelou o preço de todos os gêneros de primeira necessidade. Também foram tomadas outras medidas como a defesa da criação da escola primeira pública e gratuita; a regulação dos salários; o direito de greve e o combate ao estado de miséria que atingisse qualquer cidadão. Caracterizou-se também o governo jacobino pela enorme mortandade devido à ação descontrolada e abusiva do Tribunal Revolucionário, sendo executadas dezenas de milhares de pessoas.

As experiências republicanas dos Estados Unidos e França influenciaram diversos movimentos na América, como nos casos das independências de vários países da América hispânica e em movimentos republicanos no Brasil como as Conjurações Mineira e Baiana no século XVIII; a Confederação do Equador, em Pernambuco e a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul no século XIX.

Em 1840 assumiu o governo o imperador Dom Pedro II. Seu pai, Dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil, havia abdicado em 1831 e começaram os governos regenciais (Regências Trinas, Regência de Feijó e Regência de Araújo Lima). O último governo regencial acabou graças à antecipação da maioridade de Pedro de Alcântara, o segundo imperador. O segundo Império iniciou tendo de lidar com algumas revoltas provinciais que tinham começado nos governos regenciais, sendo a mais duradoura a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul. No fim da década de 1840 as tropas imperiais derrotaram a Revolução Praieira em Pernambuco, acabando com as revoltas nas províncias. 

A política partidária no Segundo Império ficou dominada pelo Partido Conservador (mais centralizador) e pelo Partido Liberal (a favor de mais autonomia às províncias). O imperador governava tendo a seu favor o Poder Moderador, que possibilitava a ele um poder centralizador e de intervenção política.

Na segunda metade do século XIX, conflitos externos (Guerra contra o ditador Rosas na Argentina, Guerra contra os blancos do Uruguai e a Guerra do Paraguai); a Questão da escravidão;  a Imigração de europeus; as iniciativas de Mauá e o desenvolvimento cada vez maior da lavoura cafeeira   foram fatores de destaque na realidade brasileira.

Depois da Guerra do Paraguai, fatos importantes influenciaram no enfraquecimento do Império e contribuíram para a implantação da República. Com o fim da guerra contra o exército paraguaio de Solano Lopez, novos aspectos aconteceram como o Manifesto Republicano de 1870; o surgimento de uma nova consciência corporativa por parte de membros do Exército brasileiro e o crescimento do movimento abolicionista. Podem ser apontadas como as principais “Questões” que foram responsáveis pela decadência do Império as seguintes: Questão Religiosa; Questão Escravocrata; Questão Militar.

A Questão Religiosa se deu devido a dois bispos brasileiros terem punido padres maçons, seguindo a orientação papal, mas sem a autorização do imperador, conforme determinava o padroado, que estabelecia a submissão do Clero brasileiro ao Império (tal prisão ocasionou um desgaste da relação entre Igreja e o governo imperial); a Questão Escravocrata, por causa da Lei Áurea que libertou os escravos, levando ao descontentamento diversos fazendeiros escravistas; a Questão Militar, devido ao sentimento de desvalorização por parte de integrantes do Império e à prisão de militares que se manifestaram contra atos do Império, assim como a influência de ideias republicanas e positivistas no meio de oficiais do Exército. Também foram fatores que tiveram influência a Questão da Sucessão do Trono, pois a princesa Isabel, herdeira do trono, era casada com um nobre francês; e republicanismo federalista de certos fazendeiros, principalmente da província de São Paulo, querendo descentralizar o poder e dar mais autonomia às províncias (na República, os estados) e o descontentamento de camadas médias da população, que queriam mais oportunidades.

O acirramento da Questão Militar, com a prisão de militares, levou certos oficiais a marcarem a derrubada do imperador. Foi chamado a chefiar as tropas que iram realizar o movimento o marechal Deodoro da Fonseca, que era de origem monarquista. De início não tendo se decidido a apoiar o movimento, acabou por tomando parte e liderando as tropas que depuseram o ministério imperial, principalmente por ter sido espalhado um boato de que ele, Deodoro, como também outros oficiais, seriam presos. Então, em 15 de novembro de 1889, o governo imperial caiu, sendo que o imperador  e sua família tiveram de se exilar na Europa.

Os primeiros governos republicanos foram chamados de “República da Espada” (governos de Deodoro e Floriano Peixoto). A Constituição de 1891 instituiu algumas mudanças importantes, como o fim do voto censitário (por renda); a separação da Igreja do Estado; o fim do poder Moderador; mais autonomia para os Estados; o voto direto para presidente da república (depois da primeira eleição, que seria indireta). Mas a estrutura econômica do país ainda continuava muito baseada no campo e os que podiam votar eram  somente homens alfabetizados a partir de 21 anos, estando excluídos também mendigos e membros de ordens monásticas, o que restringia o número de eleitores a uma ínfima parcela da população. E o voto não era secreto. Durante a “República da Espada” milhares de brasileiros perderam a vida em conflitos sangrentos (Revolta da Armada e Revolução Federalista).

Após o governo de Floriano veio a chamada República Oligárquica, dominada pelos fazendeiros, com predomínio das oligarquias paulista e mineira. A República da Espada e a Oligárquica formaram a chamada República Velha (1889-1930), período sucedido por outas fases republicanas do Brasil: Era Vargas (1930-1945); Governos Populistas (1946-1964); Governos Militares (1964-1985) e a fase atual de democratização (1985 até hoje).

Houve durante toda a República, em nosso país, conquistas de direitos de cidadãos por meio de lutas diversas; massacres; vitórias e retrocessos políticos; maiores direitos quanto ao voto; diversificação econômica; crescimento urbano; melhorias sociais etc. Infelizmente problemas sociais graves continuam ocorrendo. A violência urbana acentuada e a corrupção disseminada ainda são aspectos negativos muito frequentes e com um sistema judiciário em variadas ocasiões com falhas e injusto. A Educação e a Saúde Pública tem que melhorar muito, como também necessita haver um maior desenvolvimento de   muitos aspectos estruturais.  Enfim, houve mudanças boas, avanços democráticos, porém para nossa República ser mais justa e mais democrática ainda falta muito. 

De Platão, podemos nos inspirar na sua ênfase na educação e na necessidade dos esforços por melhorias das capacidades das pessoas, mas sem chegar nas minúcias de seu processo seletivo, onde a sociedade discriminava os que não tinham condições de serem os mais capacitados e onde os "intelectuais" tinham um poder supremo. E dos jacobinos, o exemplo da preocupação com os mais necessitados, sem chegar nos seus excessos e autoritarismos. Dos Estados Unidos há boas ideias de respeito aos direitos de expressão, os direitos pessoais. Porém temos de ter consciência de que o Brasil não tem que ter como um modelo ideal este último país, que também tem seus defeitos, como se viu na última eleição, quando um candidato menos votado foi eleito presidente. O Brasil precisa encontrar seu  próprio caminho em busca de uma sociedade melhor e mais justa.

Que a data do 15 de Novembro nos sirva de reflexão sobre a história de nossa república e o que queremos que mude em nossa nação!

      
            Márcio José Matos Rodrigues - professor de História.


Imagem: Google